A cadeia da Reciclagem já conta, em alguns países, com a ajuda de novas tecnologias para melhorar sua performance. Alguns destes países já conseguem obter índices de resíduos reciclados superiores a 16% do total de resíduos coletados.
Reciclagem no Brasil
Aqui no Brasil, nos municípios onde há coleta seletiva implantada, os resíduos recicláveis são inicialmente separados dos resíduos orgânicos nas residências dos consumidores. Posteriormente, são coletados pelas empresas públicas de limpeza urbana, e encaminhados às cooperativas de catadores. Nas cooperativas, os resíduos são separados manualmente de acordo com o tipo de material, coloração, e valor de revenda. Várias cooperativas já possuem equipamentos para aumentar o volume de resíduos tratados, tais como garras mecânicas, pás carregadeiras, esteiras rolantes, e prensas industriais.
Entretanto, menos de 2% do total de resíduos produzidos no país é encaminhado a reciclagem. Muitas frentes de trabalho estão sendo feitas no sentido de melhorar este índice como, por exemplo, o incentivo à profissionalização, à legalização e à formação de novas cooperativas. Uma boa notícia é que já há muito mais tecnologia disponível que poderá vir a colaborar futuramente com a cadeia da reciclagem no Brasil.
Algumas tecnologias em operação
Em Nova Iorque, EUA, o município inaugurou em 2013 uma unidade de reciclagem totalmente automatizada, chamada Sunset Park Material Recovery Facility, com capacidade para processar até 1000 toneladas diárias. Com cerca de 85 funcionários divididos em 2 turnos, a unidade recebe o resíduo reciclável das residências de vários bairros da cidade.
Os resíduos são trazidos por caminhões da prefeitura e depositados em um grande galpão coberto. Como a usina fica na beira de uma baía, o material pode chegar também via barcaças, por um canal lateral coberto. A barcaça é uma estrutura simples, mas que transporta o equivalente a 100 caminhões. Uma garra mecânica transfere o material das barcaças para o grande galpão. Uma pá mecânica transfere o material para uma grande esteira automatizada, que transporta os resíduos para a parte interna da usina.
Enquanto são transportados de forma contínua pelos 3 km de esteiras, os resíduos são segregados através de diferentes processos exclusivamente mecanizados. Inicialmente, o material passa lentamente por um tambor onde os sacos são rasgados e sacudidos para separar os resíduos uns dos outros. Seguem para uma esteira segmentada, que os agita e quebra os vidros em pedaços pequenos, que caem por pequenas aberturas na esteira. Em seguida, a esteira passa sob um tambor imantado que retira os metais, e os transfere para uma esteira a parte, onde são separados por tipos: latas de alumínio, panelas de ferro, etc.
A novidade começa a partir deste ponto, pois os resíduos restantes, basicamente plástico e papel, ainda precisam ser separados por tipo. É aí que entram os scanners ópticos. Há dezesseis deles localizados nesta usina.
Como funcionam os scanners ópticos
Cada scanner fica “fotografando” várias vezes por segundo um ponto específico da esteira. Dessa forma, permite identificar cada tipo de material que está passando ali, e sua posição na esteira. Logo adiante, no final da esteira, há 200 saídas de ar. Quando o material que se deseja segregar passa por este ponto, as saídas de ar localizadas sob ele são acionadas e o material é então “soprado” pra fora da esteira, recolhido em outra seqüência de esteiras. Os demais materiais caem e seguem adiante.
Cada scanner pode ser reconfigurado rapidamente para identificar um diferente tipo de material. Se um tipo de resíduo passou a ter mais valor comercial, ele pode ser facilmente incluído, e outro de pouco valor, retirado. Desta forma, é composta uma seqüência de segregação dos materiais bastante eficiente, tanto sob o ponto de vista operacional como comercial.
Como o maquinário não é perfeito, o processo envolve ainda uma etapa de controle de qualidade, realizada manualmente por cerca de 20 funcionários. O objetivo é garantir maior qualidade no material separado.
O resultado de todo este processo é um material separado com maior qualidade, o que significa que não apenas a usina conseguirá obter melhores valores de venda, como também um maior índice de reciclagem final.
Após a separação
Os materiais são liberados separadamente para a área de prensas, onde são prensados automaticamente em fardos enormes e carregados em caminhões ou em vagões (a usina é interligada também à ferrovia, reduzindo os custos de transporte de certos materiais).
A usina tem clientes (compradores de recicláveis) em todo o mundo, mas a maior parte é norte-americana.
Outras tecnologias verdes
A usina possui painéis solares e instalou recentemente uma turbina eólica. Assim, 20% da eletricidade consumida provém de fontes alternativas de energia próprias, reduzindo ainda mais os custos de operação.
Futuro das cooperativas no Brasil
A indústria brasileira é atenta a estas novas tecnologias na reciclagem e já temos fabricantes locais para as esteiras rolantes, pás mecânicas, garras mecânicas e prensas especializadas. As cooperativas mais organizadas já conseguiram inclusive adotar algumas destas tecnologias, melhorando sua produtividade, ampliando o volume processado e gerando mais empregos.
Os painéis solares devem começar a ser fabricados aqui ainda este ano, em SP, reduzindo seu custo. As turbinas eólicas e os scanners ópticos ainda precisam ser importados e por isso ainda têm alto custo de investimento, dificultando sua adoção pelas cooperativas. O crescimento do mercado da reciclagem, associado a políticas públicas nele focadas, podem incentivar a produção nacional destes equipamentos e conseqüente redução de custos. O investimento em tecnologia poderia se tornar viável e permitir que alcancemos índices de reciclagem melhores em nosso país.
Se quiser saber mais detalhes sobre a operação da usina de NY, clique aqui (texto em português).
Para fazer um tour virtual pela usina de NY: clique aqui. ?
Claudia Khair é Especialista em Gestão Ambiental pela UFRJ e Engenheira Eletrôncia pela PUC-RJ, e atualmente atua em projetos de educação ambiental, produção de conteúdo ambiental para mídias sociais, e na captação de recursos como voluntária na Recicloteca.
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