Polo de Reciclagem de Jardim Gramacho foi inaugurado em Duque de Caxias – RJ há 4 meses. Projetado para operar com até 500 catadores, já há 110 trabalhando na triagem de material reciclável. Leia na íntegra a notícia no site do Governo Estadual. Temos que admitir que a iniciativa é louvável. Veio a reboque da compensação financeira de 1700 catadores cadastrados entre os mais de 2000 que trabalhavam no maior lixão da América Latina. Estes catadores ajudaram a aumentar o tempo de operação do depósito e muitos demagogos, ditos especialistas em resíduos, afirmam que é melhor catar no lixão que passar fome. Dizem isso como se o RJ fosse um estado pobre e o problema tivesse surgido da noite para o dia.
Por conta do fechamento e da iminente convulsão social em torno do fim do lixão, os governos das três esferas se mexeram e deram uma gota de atenção a quem foi ignorado por décadas. Isso também é louvável. Muitas reuniões, debates e seminários resultaram na criação do tal fundo de compensação e de parcerias público-privadas para viabilizar o pagamento e a infraestrutura de reciclagem. O polo atende a parte das necessidades dos catadores que querem continuar a trabalhar na reciclagem, e embora essa opção tenha sido facultada a todos, o Rio perdeu a oportunidade de aproveitar boa parte dessa mão de obra qualificada de uma maneira mais nobre e inteligente. Os anos de letargia, com sucessivos prefeitos e governadores empurrando o problema para a próxima gestão, resultaram na necessidade de uma solução rápida para um problema complexo: a relação dos catadores com o lixão e o ofício que realizavam.
Pólo de Jardim Gramacho é ótimo mas insuficiente como compensação
Era óbvia a necessidade de oferecer assessoria social e profissionalizante a esses especialistas dentro do ramo de reciclagem, valorizando o conhecimento adquirido no lixão. O polo é importante e muito bom para os que ficaram, mas a cidade e o estado perderam valiosos profissionais. Além disso, o estado poderia evoluir muito em relação ao lixo e revolucionar toda a cadeia da reciclagem, com capacitação, acompanhamento, legislação, incentivos fiscais, educação, fiscalização e parcerias duradouras.
É fundamental saber que o polo só funciona pois há injeção de verba privada. Se ela acabar esse centro de reciclagem pode fechar, pois o atual rendimento da reciclagem é muito baixo para que uma cooperativa se mantenha através de seu próprio rendimento. Essa mudança importantíssima precisa ser feita por algum governante ao mesmo tempo inteligente, humilde e corajoso para admitir que o modelo de gerenciamento de resíduos precisa de transformação. E que não basta mudar apenas a vida de alguns dos que se dedicaram à reciclagem por anos sem a devida valorização.
O vídeo abaixo aparenta que a solução foi alcançada por mérito de todos os envolvidos, mas o problema dos resíduos e da sub-valorização dos profissionais da reciclagem não foi solucionado e precisa da atenção de toda a sociedade, não apenas dos governantes ou empresários.
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