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Enzima mutante que digere o plástico é divulgada pela ciência

O excesso de plástico descartado no meio ambiente é um grave problema desde o início do uso deste material pela sociedade moderna. Ele é barato, leve e principalmente resistente. Por essa última qualidade ele demora a se degradar e reduzir seu acúmulo na terra e no mar é um dos grandes desafios da era moderna. Reutilizável e reciclável, o plástico padece de seu mau uso, para fabricação de itens descartáveis e de formas equivocadas de destinação final.

A descoberta de uma enzima mutante que come plástico foi anunciada por toda a imprensa como um avanço científico, e esperança para acabar com o grave e crescente problema de resíduos plásticos no meio ambiente. No entanto, ao ler as matérias é possível suspeitar que o formato da divulgação da enzima tenha propósitos distintos ao da pesquisa, que é o bem do planeta. (Veja aqui o original publicado pelo periódico PNAS)

Descoberta da Enzima é mal divulgada pela mídia

A quem interessa esconder da população que a reciclagem já é feita e viável? Ou que ela não seria tão eficiente quanto realmente é? A pesquisa da nova enzima em si é importante e válida, mas a forma como ela foi divulgada é muito questionável. De um modo geral a mídia precisa causar impacto e a forma como a pesquisa científica consegue isso não impressiona o suficiente para ganhar espaço nos veículos de comunicação, portanto é preciso polemizar.

Várias agências de notícias passaram informações incompletas. Algumas afirmaram que a enzima seria util para realizar uma inédita reciclagem do PET. Ora, o PET já é reciclado industrialmente e inclusive pode voltar à produção de garrafas PET novas, uma tecnologia recentemente liberada no Brasil pela ANVISA.

Em 2014 a divulgação de uma bactéria comedora de plástico chegou a ser noticiada como uma forma de minimizar a preocupação com o problema do plástico no mar. Agora voltamos ao tema com essa visão míope de que a tecnologia científica é a melhor forma de resolver problemas de má gestão e falta de educação. Leia AQUI nossa matéria de novembro de 2014.

Todo e qualquer avanço científico que possa ser usado para melhorar o equilíbrio ambiental é bem-vindo e sem dúvida a enzima recém descoberta é um deles. Mas não se pode substituir a gestão e a educação ambiental por uma tecnologia, por melhor que ela seja. O cerne do problema é o uso dos plásticos como embalagens e utensílios descartáveis, quando na verdade esse material é barato, leve e resistente o suficiente para ser empregado em objetos duráveis. Se a discussão mudar seu foco da nossa péssima relação com o plástico para a simples aceitação do problema e das soluções tecnológicas, ficaremos eternamente estagnados, pois quando surgirem novos problemas ambientais decorrentes de nosso ímpeto predatório, vamos sempre aguardar a saída tecnológica.

As soluções simples e eficientes, costumam ser baratas e isso é um problema para quem tem objetivos escusos em relação aos problemas ambientais. Rever os conceitos e os hábitos de toda a cadeia de produção e consumo é bem mais rápido e prático, mas não envolve imensos investimentos e vai causar desconforto e descontentamento a consumidores e grandes corporações.

Ciência e tecnologia são fortes aliados para nos ajudar a viver melhor e em equilíbrio com o meio ambiente, mas a urgência de uma nova relação humano-planeta trará benefícios mais rapidamente se o investimento em educação e gestão ambiental forem prioridade.

Saiba mais:

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