Por André Trigueiro – Mundo Sustentável*
Quando se fala em crise ambiental, culpa-se com frequência os atuais meios de produção e consumo pela destruição sem precedentes dos recursos naturais do planeta. O diagnóstico é correto, mas incompleto. Há uma crise de percepção, um olhar estreito sobre a realidade que nos cerca e que legitima toda a nossa indiferença – ou como diria o teólogo e escritor Leonardo Boff, nossa falta de cuidado – para com as leis do universo, que regem a vida e tudo o que há. Nossa visão fragmentada da realidade nos precipita na direção do abismo existencial, onde as coisas carecem de sentido, a soma das partes não explica o todo, e a ciência não cumpre a promessa de resolver os grandes problemas da humanidade.
Somos escravos de um olhar reducionista, que relega muitas vezes à natureza a função de apenas nos suprir de alimentos, energia, matéria-prima e belas paisagens. Dilapidamos o patrimônio natural sem a percepção de que somos parte do planeta, de que o meio ambiente começa no meio da gente, a partir da nossa constituição física, onde a água, o ar, o solo e a luz solar são elementos fundamentais à manutenção da vida. Essa falsa dualidade – eu e o meio ambiente – denunciada pelos místicos na antiguidade, é confirmada pela física moderna quando o universo é entendido como um complexo sistema de redes interdependentes, que interagem ininterruptamente.
Entender a vida na sua expressão mais holística, sistêmica e interrelacional não constitui o único desafio do nosso tempo. É preciso comunicar esse saber, traduzi-lo sem o peso do jargão ecológico-científico, torná-lo inteligível ao maior número possível de pessoas, a fim de que uma nova cultura se manifeste na direção da sustentabilidade. Viver de forma sustentável – em equilíbrio com o meio ambiente – não é uma questão de estilo, mas de sobrevivência. Ou reconhecemos a nossa parcela de culpa nas grandes tragédias ambientais da atualidade – escassez de recursos hídricos, aquecimento global, desertificação do solo, crescimento geométrico de lixo, etc – ou esgotaremos todas as possibilidades de projetar um futuro melhor para nossos filhos e netos.
* artigo escrito para a Revista do Congresso Saber 2004 em 11/10/2004 .
Fonte: Mundo Sustentável
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